O maravilhoso poder da Gentileza

Há uma espécie de preconceito contra a gentileza. As boas maneiras são encaradas como algo fora de moda, como algo que é falso, como uma capa para esconder o que se sente.

O que é um grande equívoco.

Alguns gestos de cortesia não valem pelo seu valor de verdade, são do domínio dos rituais diários. Um exemplo: quando damos um “bom dia” a alguém, raramente estamos a desejar que a pessoa tenha um dia bom, na verdade, o que dizemos é: “estou aqui e vi que tu também estás”. Outro exemplo é o termo “grato” que vem do latim “gratia” e que significa “receber uma graça”, “um favor divino”. Dizer “obrigada” a alguém que segurou a porta do elevador, não achamos que ela nos concedeu uma dádiva celestial, mas antes são costumes que acolhem, demonstram respeito e facilitam o contacto com o outro.

Curiosidade: quem não se encantou com o comportamento do Japão no Mundial de 2018? Após a sofrida derrota frente aos belgas, a selecção japonesa deixou o balneário limpo e uma nota de “Obrigado” — escrita em russo — para os seus anfitriões. Não é por acaso que o Japão é considerado o país mais gentil do mundo.

Seguido do preconceito, vem a dificuldade da prática. Conviver é um jogo de equilíbrios complexos: precisamos do nosso espaço e de respeitar o espaço do outro; devemos ser discretos, mas atenciosos; devemos ser interessados, mas não invasivos…Em muitos momentos corremos o risco de aborrecer e ser aborrecido, irritar e ser irritado…

Lembremos Mafalda, a célebre personagem do cartoonista Quino que diz que: “É muito fácil amar a humanidade, difícil mesmo é amar as pessoas”. Amar quem está longe é fácil, amar o próximo — quem está na sua casa, na sua rua — é muito mais difícil.

Porém, não há outra forma.
A ligação com o outro faz parte da nossa natureza. Está no nosso DNA.

Precisamos do outro e só estamos bem quando estamos bem com o outro. A experiência do acolhimento, da partilha, do aFEcto, da sensação de plenitude só se dá com o outro. E quando estamos mal, também é com o outro. Cultivar actos contrários abre a porta para a desigualdade, para a agressão e para relações que magoam.

Seja qual for o cenário, os ganhos e os prejuízos são para todos.

Há uma analogia que mostra que a gentileza é semelhante a partilha.
Se tu tens uma vela acesa e deixas que o outro acenda a vela dele na tua, tu não perdes luz, o outro ganha luz e tudo fica muito mais iluminado.

A inspiração para este texto, em homenagem aos dias que precisamos de viver mais, foi esta frase, de Manuel Clemente, “Arrisco-me a dizer: a gentileza não ocupa lugar.”

*Incrível ser aquele que é gentil.

Treze.


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